quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Processos de Memória

Estamos programados para filtrar os estímulos e para recusar os dados que são irrelevantes. Cabe ao cérebro seleccionar o que é relevante para assegurar a própria sobrevivência do indivíduo e da espécie. Se registássemos e recordássemos todos os estímulos, seríamos incapazes de responder adequadamente ao que efectivamente é importante. O que o cérebro determina como importante ou não ocorre no processo perceptivo e no processamento de informação.
Processos inerentes à memorização:
1.       Codificar a informação sensorial;
2.       Armazenar a informação;
3.       Recuperar e utilizar a informação no processo de interpretação e acção sobre o meio;
4.       Esquecimento.
Codificação – prepara as informações sensoriais para serem armazenadas no cérebro; consiste na tradução de dados num código (pode ser acústico, visual ou semântico).
Armazenamento – cada um dos elementos que constituem as memórias está registado em várias áreas cerebrais, registado em diferentes códigos, contribuindo cada um deles para formar as recordações que se evocam. Quando uma experiência é codificada e armazenada, ocorrem modificações no cérebro de que resultam traços mnésicos designados por engramas. Cada informação, cada engrama, produz modificações nas redes neuronais que, mantendo-se, permitem que se recorde o que se memorizou, sempre que necessário. Para que uma informação se mantenha de modo permanente e estável é necessário tempo (o processo de fixação é complexo).
Recuperação – recupera-se a informação: lembramo-nos, recordamo-nos, evocamos uma informação. Esta etapa integra duas fases:
  • Reconhecimento – quando se evoca uma informação, tem de se saber primeiro se ela consta na nossa memória (se a “aprendemos”); 
  • Evocação – depois tem de se procurar o seu conteúdo.
A recuperação depende de muitos factores. A facilidade de recordação está relacionada com o grau de correspondência entre o contexto de codificação e o contexto de evocação – especificidade de codificação. O esquecimento é menor sempre que a aprendizagem e a evocação têm lugar nas mesmas condições físicas e psicológicas.
O tempo que uma recordação perdura é muito variável. Não retemos todas as informações que recebemos durante o mesmo tempo.



Classificação da memória quanto à DURAÇÃO:






Memória a curto prazo: memória que retém a informação durante um período limitado de tempo, podendo ser esquecida (perdida para sempre) ou passar para a memória a longo prazo.
Memória Imediata: o material recebido fica retido durante uma fracção de tempo (cerca de 30 segundos).
Memória de Trabalho: mantemos a informação enquanto ela nos é útil; actividade de armazenamento e de utilização de informações ligadas de modo específico à realização de uma tarefa.
Memória a longo prazo: memória que é alimentada pelos materiais da memória a curto prazo que são codificados em símbolos.
Memória Não Declarativa/Implícita/Sem registo: memória automática que mantém as informações subjacentes à questão “Como?” (ex: como andar de mota, como conduzir um carro, ler). Quando desenvolvemos estes comportamentos, não temos consciência de que são capacidades que dependem da memória. O exercício, o hábito, a repetição do conjunto das práticas tornam este tipo de actividades automáticas, reflexas. Muitos destes comportamentos são essenciais à vida do dia-a-dia, dispensando a nossa atenção. Para executarmos estas actividades não é requerida a localização no tempo, nem reflexão, nem reconhecimento. (Situações em que evocamos a memória sem termos consciência disso, comportamentos motores).
Memória Declarativa/Explícita/Com registo: implica a consciência do passado, do tempo, reportando-se a acontecimentos, factos, pessoas (situações em que temos consciência de que nos estamos a recordar de alguma coisa). Integra dois subsistemas:
  • Memória Episódica: envolve recordações, lembranças da vida pessoal (factos, experiências pessoais); memória pessoal que manifesta uma relação intima entre quem recorda e o que se recorda (“autobiográfica”); implica a localização no espaço/tempo (acontecimentos específicos).
  • Memória Semântica: refere-se ao conhecimento geral sobre o mundo (ex: factos históricos, regras gramaticais); não há localização no espaço/tempo (acontecimentos gerais).
 Memória Construída
Quando evocamos, por exemplo, um acontecimento, a sua representação na memória não é uma reprodução fiel porque pode estar associado a uma experiência positiva ou negativa, o que afecta o modo como o reproduzimos. As representações implicam uma selecção da informação, a sua codificação, a associação a experiências anteriores ou a acontecimentos relevantes. Marcadas pela experiência, pelas emoções, pelos afectos, as representações são guardadas pela memória, sendo activadas sempre que necessário. A realidade exterior ausente pode ser substituída por uma realidade interior mantida pela memória, que entretanto foi modificada.


Processo Activo
A informação que apreendemos de um mesmo episódio da vida é diferente. Cada um de nós enquadra a informação nos conhecimentos que já tem, enquadra os conhecimentos no contexto das suas experiências e expectativas.
A memória não reproduz fielmente o registo: a memória reconstrói os dados que recebe dando relevo a uns, distorcendo ou omitindo outros. Quando os acontecimentos estão muito marcados pela emoção, os pormenores escapam. Neste caso, o cérebro preenche essas falhas, reconstrói, portanto, a memória. Por isto tudo, diz-se que a memória é um processo activo e dinâmico.
À medida que vamos adquirindo novas informações no dia-a-dia e as armazenamos sob a forma de memória, estabelecem-se no cérebro novas alterações anatómicas. Uma vez que todos nós somos educados em ambientes algo diferentes e temos experiências algo diferentes, a arquitectura do cérebro de cada um de nós é modificada de forma única (incluindo os gémeos homozigóticos).


Para além da memória pessoal, que assegura a identidade individual, há também uma memória colectiva que é parte integrante da identidade de cada família, grupo social ou nação. Do passado retêm-se determinados factos e esquecem-se outros: há uma selecção e uma idealização do passado. A reconstrução da memória social das nações ou grupos sociais, ou seja, o apagamento de determinados factos e a exaltação de outros tem por objectivo reforçar os laços sociais, sendo uma forma de definir a sua identidade.

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